terça-feira, 3 de abril de 2012



Histórico

     A Páscoa é um evento religioso cristão, considerado como a maior e mais importante festa da cristandade. Nela, os cristãos das diversas correntes religiosas celebram a ressurreição de Jesus Cristo, ou seja, a sua volta à vida após ter morrido crucificado, três dias antes. O fato está descrito nos evangelhos e em diversas escrituras bíblicas e ocorreu ao redor dos anos 30 a 33 d. C.
     O termo Páscoa tem origem no hebraico Pessach, significando passagem. O motivo da festa, no entanto, é diferente. Os judeus comemoram o Pessach em lembrança à libertação do povo hebreu, que era escravizado no Egito, à época de Moisés. Os cristãos mantiveram o nome, pois a vitória de Cristo também é uma passagem, da morte para a vida. As duas festas também estão ligadas pela posição no calendário.
     O calendário judeu é baseado no ciclo lunar, por isso a Páscoa cristã é móvel no calendário cristão, assim como todas as datas relacionadas à Páscoa. A data é calculada como sendo o primeiro domingo após a lua cheia seguinte à entrada do equinócio de outono, no hemisfério sul (ou de primavera, no hemisfério norte). Por essa variação do calendário, a Páscoa pode ocorrer entre 22 de março e 25 de abril.

     
As datas móveis relativas à Páscoa são:

- Terça-feira de Carnaval: 47 dias antes da Páscoa;
- Quaresma: inicia na Quarta-feira de cinzas e termina no Domingo de Ramos (uma semana antes da Páscoa);
- Sexta-feira Santa: a sexta-feira imediatamente anterior à Páscoa dia da morte de Jesus;
- Sábado da Solene Vigília Pascal: o sábado de véspera;
- Pentecostes: o oitavo domingo após a Páscoa;
- Corpus Christi ou Corpo de Deus: a quinta-feira imediatamente após o Pentecostes.
Páscoa: as muitas travessias


     A Páscoa é festa central para judeus e cristãos. Ela celebra - celebrar é atualizar - para os judeus a passagem da escravidão no Egito para a terra da promissão, a passagem pelo Mar Vermelho e a passagem de massa anônima para um povo organizado. A figura de referência é Moisés, libertador e legislador, que nasceu cerca de 1.250 anos antes da nossa era. Conduziu a massa para a liberdade e a fez povo de Deus.

     Para os cristãos, a Páscoa é também passagem. Tem como figura central Jesus de Nazaré. Ela celebra a passagem de sua morte para a vida, de sua paixão para a ressurreição, do velho Adão para novo Adão, deste cansado mundo para o novo mundo em Deus.

     Como em todas as passagens há ritos, os famosos ritos de passagem tão minuciosamente estudados pelos antropólogos. Em toda passagem há um antes e um depois. Há uma ruptura. Os que fazem a passagem se transformam. O rito de passagem do nascimento, por exemplo, celebra a ruptura da pertença ao mundo natural para a pertença ao mundo cultural, representado pela imposição do nome. O batismo celebra a passagem do mundo cultural para o mundo sobrenatural, quer dizer, de filho e filha dos pais para filho e filha de Deus. O casamento é outro importante rito de passagem: de solteiro ou solteria com as disponibilidades que cabem a esta fase da vida para casado com as responsabilidades que este estado comporta. A morte é outro grande rito de passagem: passa-se do tempo para a eternidade, da estreiteza espácio-temporal para a total abertura do infinito, deste mundo para Deus.

     Se bem repararmos, toda a vida humana possui estrutura pascal. Toda ela é feita de crises que significam passagens e processos de acrisolamento a amadurecimento. Tomando o tempo como referência, verifica-se uma passagem da meninice à juventude, da juventude à idade adulta, da idade adulta à velhice (hoje prefere-se terceria idade) e da velhice para a morte e da morte para a ressurreição e da ressurreição para o inefável mergulho no reino da Trindade, segundo a crença dos cristãos.

     São verdadeiras travessias com riscos e perigos que este fenômeno existencial implica. Há travessias que são para o abismo, há outras que são para a culminância. Mas a Páscoa traz uma novidade, tão bem intuida pelo filósofo Hegel, numa sexta-feira santa no Konvikt de Tübigen (seminário protestante) onde estudava. A Páscoa nos revela a dialética objetiva do real: a tese, a antítese e a síntese. Viver é a tese. A morte é antítese. A ressurreição é a síntese. A síntese é um processo de recolhimento e resgate de todas as negatividades dentro de uma outra positividade superior. Assim que o negativo nunca é absolutamente negativo, nem o positivo é somente positivo. Ambos se contém um ao outro, encerram contradições e formam o jogo dinâmico da vida e da história. Mas tudo termina numa síntese superior.

     Talvez esta seja a grande contribuição que a páscoa judaico-cristã oferece aos que se afligem e se interrogam sobre o sentido da vida e da história. O cativeiro não tem a última palavra mas a libertação; a morte não detém o sentido das coisas mas a vida e a ressurreição. Assim a história estará sempre aberta. Com razão nos dizia o poeta e profeta Dom Pedro Casaldáliga: depois da síntese final da Páscoa de Cristo não nos é mais permitido viver tristes. Agora a verdadeira alternativa é: ou a vida ou a ressurreição.

Leonardo Boff,
teólogo, filósofo, espiritualista, e ecologista. Ajudou a formulara a Teologia da Libertação e escreveu mais de sessenta livros.
Fonte: Cosmo On Line
Site:
http://www.cosmo.com.br/colunistas/leonardo_boff/integra.asp?id=189971