quarta-feira, 8 de maio de 2013

Premiação estimula inovação entre professores

Premiação estimula inovação entre professores
Cartola - Agência de Conteúdo - Terra Educação - 06/05/2013 - São Paulo, SP
Construir a aprendizagem a partir do conhecimento dos próprios alunos. Com uma ideia simples e metodologia criativa, Felipe Bandoni de Oliveira conquistou o prêmio Educador Nota 10 na área de Ciências em 2012, além de receber o destaque como Educador do Ano. A homenagem, concedida pela Fundação Victor Civita, reconhece anualmente educadores que tenham domínio de seu trabalho e sejam capazes de estimular os estudantes a aprenderem. A edição deste ano tem inscrições abertas de hoje a 7 de julho pelo site www.premiovc.org.br.
Quando inscreveu o projeto Lua de São Jorge na premiação do ano passado, o professor da Educação de Jovens e Adultos (EJA) do Colégio Santa Cruz, em São Paulo, tinha um único objetivo: ser avaliado por seus pares fora da escola e organizar as ideias para aprimorar o método de ensino. O projeto começou a ser construído em 2009, quando o professor percebeu, durante as aulas de astronomia, que seus alunos tinham muito a contar sobre a Lua - desde mitos sobre São Jorge até crenças sobre a influência do satélite no nascimento de crianças. `O foco é confrontar o conhecimento popular trazido pelos estudantes e o conhecimento científico, mostrando que ambos são importantes, mas têm papéis diferentes`, explica.
Oliveira destaca que na EJA não são válidos argumentos como `você precisa aprender isso para passar no vestibular`, ou `isso é imprescindível para a sua carreira`, uma vez que muitos dos alunos já são aposentados e passaram a vida sem utilizar o conhecimento científico. Por isso, é preciso achar outras maneiras de estímulo. O primeiro passo foi pedir aos estudantes que escrevessem as histórias que conheciam sobre a Lua. Em seguida, o docente selecionou os três pontos mais recorrentes para expor em aula.
O primeiro deles foi o fato de que a Lua é uma só - muitos alunos acreditavam que a de sua terra era mais bonita ou que cada fase era um satélite diferente. O segundo falava sobre a Lua estar relacionada ao nascimento de bebês. A partir disso, o docente propôs que eles desenvolvessem um olhar científico: se eles fossem a um hospital, verificariam mais nascimentos na `virada` de fase da Lua? A partir de um estudo sobre o tema, os alunos descobriram, por si mesmos, que não.
A terceira questão, e talvez a mais impactante para a turma, foi a do relevo da Lua. Muitos diziam que as manchas na superfície lunar eram mensagens e viam figuras de São Jorge ou mesmo de um coelho. Vendo imagens do satélite de perto, eles chegaram à conclusão de que as imagens não estavam na Lua, mas na sua imaginação. Para finalizar, Oliveira distribuiu dois textos aos alunos: um científico, outro popular, e pediu para que eles identificassem as diferenças entre ambos - o que eles fizeram com propriedade.
`A minha experiência mostra que, muitas vezes, a forma `tradicional` de ensinar não é eficaz. Os estudantes podem até reproduzir o que você disse em uma prova, mas não fazem contato com o conhecimento. Faz mais sentido quando partimos das dúvidas deles`, indica o professor. Para ele, colocar o aluno em frente ao problema para que ele mesmo o resolva é uma forma de que eles compreendam a realidade e percebam que o aprendizado da escola e do cotidiano não se separam.
Valorização do docente
Para Oliveira, o reconhecimento foi consequência da sua dedicação. `Os docentes são uma categoria desvalorizada, inclusive financeiramente. A EJA, especialmente, é o patinho feio da educação`, avalia. Ele destaca a importância da premiação para valorizar também os alunos, pois muitos deles fazem esforço para estar em sala de aula. `Há uma demanda reprimida de adultos que querem estudar, mas não em uma escola desestimulante e descolada da realidade`, sinaliza o professor.
Coordenadora pedagógica da Fundação Victor Civita, Regina Scarpa aponta que a distinção de educador do ano, além de ser concedida a uma prática eficaz de ensino, também tem como objetivo trazer o foco para uma área que receba menos atenção do que deveria - em um ano pode ser a EJA, em outro as creches, por exemplo. Regina explica que o grande objetivo do prêmio, um dos pioneiros na área de educação no Brasil, é socializar boas experiências em sala de aula. `Para nós, interessa que os alunos aprendam. Reconhecemos educadores que dominam seu ofício e identificam as necessidades de seus alunos`, afirma.
A coordenadora ressalta a função do prêmio em valorizar a profissão do educador, muitas vezes esquecida. `Só ouvimos falar mal da educação, tudo é muito negativo. É como se nada bom acontecesse, e isso não é verdade. São essas boas práticas que queremos mostrar`, declara.
Aluno é protagonista da educação
Envolver o estudante na realidade escolar é o centro do trabalho premiado em 2012 na categoria Gestão. Então diretora da Escola Francisco Cardona, em Artur Nogueira (SP), Débora Del Bianco Barbosa Sacilotto desenvolveu o projeto A vez e a voz dos alunos. A ação consiste em assembleias realizadas por docentes e alunos e foi criada a partir de uma ideia da professora do colégio Ariane Tagliaferro Molina.
Inicialmente, o objetivo era buscar outra forma de resolver os conflitos em sala de aula para que os alunos passassem menos tempo com a diretora e ela tivesse tempo para resolver outras questões ligadas à gestão. No entanto, quando Débora ouviu os estudantes falando sobre os problemas da instituição, se apaixonou pelo projeto. As assembleias dos alunos são realizadas duas vezes por semana, e as dos docentes, uma vez por mês. As críticas e os elogios são deixados em envelopes, e nas reuniões são discutidas formas de resolver os problemas trazidos à tona.
Além dos conflitos entre alunos, começaram a surgir questões como falta de materiais e estruturas na escola. `Obviamente não resolvemos todos os problemas, mas conquistamos algumas vitórias. Às vezes, íamos direcionar a renda para alguma coisa e, após receber críticas de alunos, mudamos o foco do investimento`, conta a ex-diretora, atualmente diretora geral do Ensino Fundamental na Secretaria de Educação do município. Para Débora, uma das principais conquistas do projeto foi a melhora do clima em sala de aula. `Até o combate ao bullying avançou, pois crianças que tinham medo de falar no assunto se manifestavam anonimamente nas assembleias`, relata.
Circo na escola
Educadora do ano em 2011, Fernanda Pedrosa de Paula, professora na Escola José de Calasanz, em Belo Horizonte (MG), mudou o conceito de educação física para seus alunos do 4º ano com o projeto Respeitável público: um circo da escola!. `O circo faz parte do imaginário infantil e é uma ótima maneira de incorporar as práticas corporais de modo diferente`, explica.
A docente começou buscando vídeos e referências que pudessem auxiliar os alunos a decidir quais práticas gostariam de trazer para a escola. As atividades escolhidas foram de malabarismo com arcos, bolas e lenços, acrobacias com corda a equilibrismo e dança, entre outras. A ideia era mostrar que a educação vai além dos jogos de quadra. `No início, os alunos viam os outros fazendo e achavam muito difícil. Ao longo do projeto, desenvolveram habilidades e se desafiaram. Depois, aos se verem nos vídeos, perceberam que haviam virado protagonistas`, conta Fernanda.
Para a professora, o reconhecimento do prêmio coroa um trabalho de 10 anos de profissão e é um incentivo para continuar se aprimorando. Ela acrescenta, ainda, que a autoestima dos alunos aumentou muito após se verem nos meios de comunicação.
Até 2012, a fundação premiava 10 professores e um gestor. Este ano, os 50 finalistas ganharão assinatura das revistas Nova Escola ou Gestão Escolar, dos quais 20 receberão também um tablet. Os 10 grandes vencedores recebem, além destes prêmios, R$ 15 mil em dinheiro e participam da festa de gala. Na festividade, é escolhido o Educador do Ano, que recebe R$ 5 mil para si e outros R$ 5 mil para a instituição onde leciona. Além disso, todos os projetos ganhadores são amplamente divulgados, para inspirar professores de diferentes áreas.

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